O Novo CPC e o penhor legal em cartório de notas, com
notificação do devedor pelo Registrador de Títulos e Documentos
INTRODUÇÃO
O que é o penhor legal? Como se processa? É útil essa
figura?
Trata-se de tema desconhecido de quase todos, mesmo na área
jurídica, mas que, com o Novo CPC e a possibilidade de homologação do penhor
legal em cartório de Notas, após notificação que preferencialmente será feita
pelo Registro de Títulos e Documentos e que pode ser solicitada de forma eletrônica,
tornar-se-á importante instrumento para o locador, para receber o que lhe é
devido, principalmente nesses tempos de crise.
DESENVOLVIMENTO
Desde 18/03/2016 (em virtude do Novo CPC, art. 703, § 2º), é
possível a homologação do penhor legal em cartório de Notas.
O penhor legal está previsto no Código Civil:
Art. 1.467. São credores pignoratícios,
independentemente de convenção: I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada
ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus
consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou
estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; II
- o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis
que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou
rendas.
Há também previsão de penhor legal na Lei nº.
6.533/78. Por esta norma, artistas e técnicos em espetáculos, não havendo
pagamento das parcelas remuneratórias ajustadas, têm direito a constituir
penhor legal sobre equipamentos do empregador. Vejamos:
Art . 31 - Os profissionais de que trata esta Lei têm
penhor legal sobre o equipamento e todo o material de propriedade do
empregador, utilizado na realização de programa, espetáculo ou produção, pelo
valor das obrigações não cumpridas pelo empregador.
Ademais, apesar de adotar nomenclatura distinta,o art.
632 do Código Comercial contém uma clara hipótese de penhor legal:
“Art. 632 - O capitão tem hipoteca privilegiada para
pagamento do preço da passagem em todos os efeitos que o passageiro tiver a
bordo, e direito de os reter enquanto não for pago. O capitão só responde pelo
dano sobrevindo aos efeitos que o passageiro tiver a bordo debaixo da sua
imediata guarda, quando o dano provier de fato seu ou da tripulação.”
Portanto, é importante destacar que outras leis federais podem dispor sobre hipóteses de ocorrência do penhor legal, sendo que o caput do art. 703 do novo CPC compreende todos “os casos previstos em lei”.
Já o art. 703, § 2º, do novo CPC prevê a homologação do
penhor legal pelo notário:
Art. 703. Tomado o penhor legal nos casos previstos em
lei, requererá o credor, ato contínuo, a homologação.
§ 1o Na petição inicial, instruída
com o contrato de locação ou a conta pormenorizada das despesas, a tabela dos
preços e a relação dos objetos retidos, o credor pedirá a citação do devedor
para pagar ou contestar na audiência preliminar que for designada.
§ 2o A homologação do penhor legal
poderá ser promovida pela via extrajudicial mediante requerimento, que
conterá os requisitos previstos no § 1o deste artigo, do credor a
notário de sua livre escolha.
§ 3o Recebido o requerimento, o
notário promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5
(cinco) dias, pagar o débito ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma
das causas previstas no art.
704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo
competente para decisão.
§ 4o Transcorrido o prazo sem
manifestação do devedor, o notário formalizará a homologação do penhor
legal por escritura pública.
Art. 704. A defesa só pode consistir em: I - nulidade do
processo;
Art. 705. A partir da audiência preliminar, observar-se-á
o procedimento comum.
Art. 706. Homologado judicialmente o penhor legal,
consolidar- se-á a posse do autor sobre o objeto.
§ 1o Negada a homologação, o objeto será entregue ao
réu, ressalvado ao autor o direito de cobrar a dívida pelo procedimento comum,
salvo se acolhida a alegação de extinção da obrigação.
§ 2o Contra a sentença caberá apelação, e, na
pendência de recurso, poderá o relator ordenar que a coisa permaneça depositada
ou em poder do autor.
Interessantíssimo o instituto, mas importante ter uma visão global do penhor para melhor orientação aos interessados na sua aplicação. O que é o penhor? Qual o procedimento do penhor legal em cartório de notas? Como avaliar os bens do devedor? Após a homologação do penhor em cartório de notas, quais as conseqüências do penhor legal? É necessário registrá-lo no RTD ou não? É necessário excutir o penhor? Qual o prazo prescricional?
O PENHOR É UM DIREITO REAL DE GARANTIA
Segundo Domingos Sávio de Sousa1,é
regra fundamental no direito obrigacional que o patrimônio do devedor deve
suportar suas dívidas. O credor pode se servir de garantias, pessoais ou
fidejussórias e reais, para o cumprimento da obrigação e satisfação do seu
crédito. Garantia fidejussória é aquela em que a relação jurídica obrigacional
resta assegurada por pessoa estranha, caso o devedor não solva o débito
original.
Sílvio Venosa2,
mencionado por Sousa, esclarece que “quando há direito real de garantia,
especializa-se um bem, isto é, individualiza-se e determina-se o que a
princípio era indeterminado, respondendo ele preferencialmente por determinada
dívida”.
Sousa ensina que a diferença fundamental entre os direitos
de uso e gozo e os direitos reais de garantia é que: enquanto aqueles têm
existência autônoma, estes se constituem em direito acessório, cuja existência depende
de uma relação jurídica obrigacional subjacente, a que prestam garantia.
1O instituto do penhor no direito brasileiro.
SOUSA, Domingos Sávio de. Disponível em:
<http://ambito-juridico.com.br>.
Acesso em: 26 abr. 2016.
2 VENOSA, Sílvio. Direito Civil: direito
reais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 3, p. 488
Ainda conforme Sousa, a natureza real do direito de garantia
é confirmada no art. 1.419 do Código Civil: “Nas dívidas garantidas
por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por
vínculo real, ao cumprimento da obrigação.”Aocredor pignoratício é
conferido o direito de preferência (CC, art. 1.442, parágrafo único) ao
pagamento do seu crédito, vale dizer, tem precedência no recebimento dos
montantes devidos pela dívida, ou seja, quando houver diversos credores para
uma dívida e posterior ocorrer a arrematação do bem onerado, será dada
preferência ao pagamento dos credores que ostentarem garantias reais para que,
posteriormente, se efetue o pagamento dos demais credores.Outro efeito dos
direitos reais de garantia é o direito de excussão,
ou seja, de poder executar judicialmente bens do devedor dado em
garantia, “de fazer depositar a coisa objeto dessas garantias em
juízo, a fim de que seja alienada em hasta pública”3. A
preferência que ostenta o credor está limitada à própria garantia real
outorgada, ainda que, após a excussão, reste crédito a seu favor. O restante da
dívida, porém, não possui qualquer privilégio e está sujeito à concorrência com
eventuais credores quirografários.
Ensina Sílvio Rodrigues4:
Não paga a dívida garantida por penhor ou hipoteca, pode o credor proceder à excussão, a fim de pagar-se de seu crédito com o produto obtido em praça. Entretanto, talvez o bem dado em garantia não alcance, no leilão judicial, importância suficiente para pagar a totalidade da dívida. Isso ocorrendo, a cifra recebida será imputada no crédito exeqüente. Pelo saldo irresgatado continuará pessoalmente responsável o devedor, o que vale dizer que o crédito correspondente a essa importância adquirirá o caráter de quirografário (CC, art. 1.430).
Conforme art. 1.431 do Código Civil, penhor é o
direito real constituído pela submissão de uma coisa móvel ou mobilizável,
passível de alienação, realizada pelo devedor, em garantia do débito ao credor.E
do Código Civil
3VENOSA, op. cit. p. 489.
4RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito
das coisas. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 343.
se extrai que são os sujeitos da relação pignoratícia: o
devedor, sujeito passivo da obrigação principal ou terceiro estranho àquela que
ofereça o ônus real, podendo ser proprietário da coisa onerada ou não (CC,
arts. 1.427), mas, sendo aquele que contraiu a dívida, deve destinar
a posse do bem empenhado como garantia do credor; e
o credor, titular do direito de crédito, aquele a quem é
conferida a posse da coisa empenhada pelo devedor, contudo, sem
possibilidade de atribuição dos poderes de usar e gozar da coisa ou
de pacto comissório (CC, art. 1.428), que autorize o credor a se
apropriar do bem onerado, sob pena de nulidade.
Logo, a natureza jurídica do penhor é de direito real de
garantia sobre coisa alheia, ou, como ensina Sílvio Rodrigues: “o direito do
credor pignoratício recai diretamente sobre a coisa. Uma vez legalmente
constituído, opera erga omnes, é munido de ação real e de seqüela,
deferindo, ademais, ao seu titular, as vantagens da preferência.”5
O penhor recai ordinariamente sobre bens móveis e a coisa
empenhada deve ser alienável, já que o objetivo do direito real de garantia é
assegurar a solução do débito, mediante a alienação do bem empenhado,
pagando-se o credor com o produto dessa venda (CC, art. 1.420).
O PENHOR LEGAL NO CÓDIGO CIVIL
No direito civil brasileiro, o penhor se constitui por
força de lei ou por convenção das partes.
Conforme Sousa, a determinados credores a norma jurídica
atribuiu proteção especial, ao conferir o direito de retenção de certas
coisas para garantir o pagamento total das quantias devidas pelo devedor (CC,
art. 1.467). É o caso dos hospedeiros ou fornecedores de pousada ou alimentos,
sobre os bens que seus clientes portarem consigo nos respectivos
estabelecimentos, para fazer face às despesas que ali tiverem realizado; bem
como, do
5RODRIGUES, op. cit. p. 350. proprietário de imóvel
urbano, sobre os bens móveis do inquilino nele localizados, para pagamento dos
alugueis vencidos (CC, art. 1.467, I e II).
Por convenção, o penhor é constituído pela manifestação
volitiva do credor e do devedor, que estabelecem a garantia pignoratícia por
meio de instrumento particular ou público, devidamente registrado no Cartório
de Títulos e Documentos (CC, art. 1.432). Mas e o penhor legal, devidamente
homologado, deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos ou não?
REGISTRO OU AVERBAÇÃO
DO PENHOR LEGAL, DE SUA CESSÃO, SUB- ROGAÇÃO OU DAÇÃO EM PAGAMENTO
O Código Civil dispõe que o penhor comum (art. 1.432),
o penhor de direito (art. 1.452) e o penhor de veículo (art. 1.462) devem ser
registrados junto ao Cartório de Títulos e Documentos; já o penhor rural (art.
1.4380) e o penhor industrial ou mercantil, junto ao Cartório de Registro de
Imóveis.
Mas, não trata o Código Civil expressamente da
necessidade de o penhor legal vir a ser registrado, seja no Ofício de Registro
Títulos e Documentos, seja no Ofício de Registro de Imóveis. O penhor legal é
figura anômala que autoriza o credor apreender bens em garantia da dívida. Não
há sequer a figura do contrato de penhor; mas, nas palavras de Caio Mário, há
uma “providência de caráter privado” que “tem fundamento ético e econômico
embora conserve um resquício de justiça feita pelas próprias mãos.” 6
Sem embargo, o registro no Ofício correspondente,
embora não seja requisito de validade à regular constituição do penhor legal, é
extremamente recomendável. É que havendo um conflito entre garantias reais
constituídas sobre um mesmo bem móvel, a prioridade na ordem de registro é um
critério que dificilmente poderá ser desconsiderado.
6NOTA: PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de
Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 220
Por outro lado, não há dúvidas de que a cessão do crédito, a
cessão do direito sobre a coisa empenhada, a sub-rogação e, ainda, a dação em
pagamento da coisa empenhada dependem necessariamente do registro no Ofício de
Títulos e Documentos para surtir efeitos em relação a terceiros, nos termos do
item 9º. do art. 129 da Lei nº. 6.015/73.
PENHOR CONSTITUÍDO SOBRE BENS UTILIZADOS NO
EXERCÍCIO DA EMPRESA
Merece atenção especial o penhor legal constituído sobre “o
equipamento e todo o material de propriedade do empregador, utilizado na
realização de programa, espetáculo ou produção”, conforme previsto no art. 31
da Lei nº. 6.533/78; assim como, em locações não residenciais, quando o penhor
recaia sobre bens móveis que sejam utilizados para consecução do objeto social
de sociedade ou de empresário.
É que o art. 1.442 do Código Civil considera como sendo
“estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa,
por empresário, ou por sociedade empresária”. Estes bens, portanto, como estão
afetados à atividade empresarial não admitem a designação de um simples depositário,
mas exigem um “administrador-depositário”, conforme consta expressamente do
art. 862 do novo CPC:
“Art. 862. Quando a penhora recair em estabelecimento
comercial, industrial ou agrícola, bem como em semoventes, plantações ou
edifícios em construção, o juiz nomeará administrador-depositário,
determinando-lhe que apresente em 10 (dez) dias o plano de administração.”
Espera-se do administrador-depositário, além da
capacidade de boa guarda destes bens, uma eficaz administração para que estes
se mantenham produtivamente ligados ao exercício da empresa. É de se destacar
que, eventualmente, os bens de uma filial podem ser empregados em outra unidade
para forma a assegurar a continuidade das atividades empresariais e a geração
de créditos necessários ao pagamento das dívidas sociais.
O Tribunal de Justiça de São Paulo, verificando a
presença de vícios na constituição do penhor legal, também deu destaque ao fato
de o penhor, no caso, ter afetado o exercício da empresa:
"Não há como deixar de se reconhecer prejuízo por
dano moral, diante da retenção indevida de bens, ainda mais, se necessários ao
desenvolvimento da atividade empresarial do proprietário."7
Isto se dá por que dispõe o CPC que a penhora de
estabelecimento comercial “somente será determinada se não houver outro
meio eficaz para a efetivação do crédito.” (art. 865)
Embora o estabelecimento compreenda elementos
incorpóreos e corpóreos, são estes últimos os que despertam especial atenção na
fixação do penhor legal. São os “bens móveis e imóveis utilizados na atividade
empresarial, tais como: estoque, matéria-prima, prateleiras, cadeiras, mesas,
automóveis, máquinas, imóveis etc.”8
Contudo, não são todos os bens do empresário que
necessariamente compõem o estabelecimento, conforme destaca Fábio Ulhôa:
“Os bens de propriedade do empresário, cuja exploração
não se relaciona com o desenvolvimento da atividade econômica, integram o seu
patrimônio, mas não o estabelecimento empresarial.”9
7 Tribunal de Justiça de São Paulo. 26º. Câmara.
Apelação com revisão. n° 992.06.064952-5 (1.079.854-0/9) São José do Rio Preto.
8SILVA, Bruno Matos e. Direito de Empresa: teoria da
empresa e direito societário. São Paulo: Atlas, 2007. p. 131.
9COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 16 ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 58
Assim, apesar de numa locação não residencial os bens do
locatário serem presumivelmente utilizados para o exercício da empresa, somente
o locatário poderá fazer tal afirmação. Eventualmente, tais bens já podem ter
sido desafetados da atividade empresarial, por encerramento de atividades
(circunstância até presumível) ou outras razões alheias ao conhecimento do
Tabelião.
Neste contexto, uma alternativa segura consiste em fazer
constar da Notificação Extrajudicial a informação de o locatário, ao apresentar
sua defesa, dever se manifestar acerca da questão. Se o locatário informar que
os bens são utilizados no ‘exercício da empresa’, ao fazer o encaminhamento do
procedimento ao Juiz, o Tabelião destacará tal circunstância; caso o prazo
transcorra in albis, o Tabelião consignará que o locatário,
indagado, foi silente acerca da circunstância de os bens serem utilizados na
atividade da empresa.
Em todo o caso, uma segurança adicional reside em o Tabelião
exigir a declaração do credor de que não há outra garantia prestada pelo
devedor, pois “é vedada, sob pena de nulidade, mais de uma das modalidades de
garantia num mesmo contrato de locação”, conforme parágrafo único do art. 37 da
Lei n. 8.245/91.
Em suma, o procedimento de averbação junto aos registros da
sociedade ou empresário poderá ser determinado judicialmente (conforme art.
1.144); mas, administrativamente, o Tabelião trabalhará com as informações
seguras que detém, evitando o risco de se fazer constar dos assentos da
sociedade uma equivocada oneração do estabelecimento.
Por outro lado, se houver sido homologado um penhor legal em
juízo com a determinação de se constar dos assentos da sociedade o gravame
total ou parcial do estabelecimento, o Tabelião, se vier a lavrar escritura de
acordo entre as partes desconstituindo o penhor, deverá consignar que o
representante legal da sociedade deverá proceder à desoneração do
estabelecimento.
IMPENHORABILIDADE DE BENS ÚTEIS AO EXERCÍCIO DA
PROFISSÃO DO EXECUTADO
O penhor legal constituído sobre bens ligados ao exercício
da empresa encontra limitação apenas quanto à forma de homologação, visto caber
ao juiz nomear administrador-depositário; mas, em relação aos bens que são
úteis ao exercício da profissão do executado, há absoluta impossibilidade de
penhora, nos termos do art. 833 do novo CPC:
Art. 833. São impenhoráveis:
§ 3o Incluem-se na impenhorabilidade prevista
no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas
pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto
quando tais bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em
garantia a negócio jurídico ou quando respondam por dívida de natureza
alimentar, trabalhista ou previdenciária.
Estes bens, mesmo que de forma tênue, se distinguem daqueles
outros ligados ao exercício da empresa. Estes são absolutamente impenhoráveis
(mesmo judicialmente), não podendo sequer ser aceitos pelo Tabelião; já aqueles
outros, presumivelmente ligados à atividade empresarial, podem iniciar seu
processo de homologação extrajudicialmente e, na hipótese de confirmação pelo
devedor de seu emprego na atividade empresarial, devem ser remetidos ao juízo
competente para a apreciação da defesa do devedor e a nomeação de
administrador-depositário, se for o caso.
Embora a teoria da empresa não divida os atos em civis e
mercantis, importando mais o modo como a atividade econômica é exercida, para
fins identificação dos bens absolutamente impenhoráveis (ligados ao exercício
de profissão) daqueles ligados ao exercício da empresa, o Tabelião necessita de
uma baliza concreta para sua atuação.
Assim, sinteticamente, é possível dizer que são
absolutamente impenhoráveis os bens úteis ao exercício da profissão dos
autônomos, das empresas individuais de responsabilidade limitada de natureza
simples e das sociedades simples, além do produtor rural e da empresa individual
produtora rural. Salvo as duas últimas hipóteses que decorrem de exceção legal,
as demais hipóteses estão afastadas do conceito de empresário, por força dos arts.
966 e. 982 do Código Civil.
Lado outro, os bens empregados em atividade econômica organizada
pelos empresários individuais, pelas empresas individuais de responsabilidade
limitada de natureza empresária e pelas sociedades empresárias, não estão
compreendidos na exceção prevista inciso V do art. 833 do novo CPC.
Em síntese, é interessante verificar que as pessoas
jurídicas com fins lucrativos constituídas no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, assim como os advogados e as Sociedades de Advogados com registro na
Ordem dos Advogados Brasil, estão amparadas pela impenhorabilidade prevista no
inciso V do art. 833 do CPC; já, as registradas nas Juntas Comerciais, não.
DIREITOS E DEVERES DECORRENTES DO PENHOR
Nos termos do art. 1.433 do Código Civil, o penhor confere
ao credor pignoratício os seguintes direitos: a posse da coisa empenhada; a retenção
dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas, que tiver
feito, não sendo ocasionadas por culpa sua; o ressarcimento do prejuízo que
houver sofrido por vício da coisa empenhada; excutir a coisa empenhada,
promovendo a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir
expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração;
apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder;
promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre que
haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo o
preço ser depositado, ressalvado o direito do dono da coisa empenhada de
impedir a venda antecipada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real
idônea.
O credor pignoratício não pode ser compelido à devolução da
coisa empenhada, ou uma parte dela, antes do pagamento integral da dívida,
cabendo ao juiz, a requerimento do devedor-proprietário, determinar que seja
vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para o
pagamento do credor pignoratício (CC, art. 1.434)
Ao credor pignoratício foram outorgadas as seguintes
obrigações (CC, art. 1.435): custódia da coisa, como depositário, devendo
ressarcir ao dono a perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser
compensada na dívida, até a concorrente quantia, a importância da
responsabilidade; defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono
dela, das circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação
possessória; imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433,
inciso V) nas despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital da
obrigação garantida, sucessivamente; restituí-la, com os respectivos frutos e
acessões, uma vez paga a dívida, sob pena de indenizar em perdas e danos;
entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no caso do inciso IV
do art. 1.433.
Para Sílvio Venosa, “o principal direito do credor
pignoratício é excutir o bem, realizando o valor da dívida, na hipótese de
inadimplemento (CC, art. 1.422). O penhor é direito de realização de valor e
atribui ao credor o direito de prelação sobre a coisa empenhada”10.
O penhor legal é, pois, a modalidade de garantia real
estabelecida pela lei em favor de certas pessoas. São requisitos do penhor
legal a prévia relação negocial, de hospedagem ou de locação, e o
inadimplemento de prestação prevista naquele contrato.
A proteção conferida a tais credores é importante, pois a
lei autoriza a imediata apreensão de coisa pertencente ao devedor, até o valor
da dívida (CC, art. 1.469), dispensada a prévia decisão judicial, sempre que
caracterizado o perigo na demora, exigindo-se apenas a comunicação ao devedor
dos bens apossados (CC, art. 1.470) e o requerimento da homologação judicial ou
10VENOSA, op. cit. p. 507. extrajudicial do penhor, em ato contínuo (CC,
art. 1.471 e art. 703, § 2º,do novo CPC)
Quanto aos hospedeiros e fornecedores de pousada e alimentação,
a lei exige ainda que o montante da dívida seja apurada de acordo com a tabela
impressa, prévia e ostensivamente exposta no estabelecimento, dos respectivos
preços, sob pena de nulidade do penhor (CC, art. 1.468).
Após homologado judicialmente ou extrajudicialmente o penhor
legal, a constituição do direito real de garantia é finalizada, e o credor
deixa de ser mero detentor da coisa apreendida, devendo iniciar a execução da
dívida no prazo legal, sob pena de prescrição da ação, sendo que tal prazo, conforme
CC, art. 206, §§ 1º e 3º, I, é de três anos11.
Não homologado o penhor legal, a coisa apreendida deve ser
restituída ao devedor, ressalvado ao credor o direito à via ordinária para
cobrança da dívida (CPC, art. 876, in fine).
APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DO CÓDIGO CIVIL E O DE DEFESA
DO CONSUMIDOR.
A hipótese prevista no inciso I do art. 1.467 do Código
Civil, penhor legal em favor de hospedeiros, fornecedores de pousada ou de alimento,
por envolver uma relação consumerista, sujeita-se à observância das disposições
especiais contidas no Código de Defesa do Consumidor.
Há, contudo, quem sustente que o dispositivo seria
inaplicável, pois colocaria o consumidor em situação de manifesta desvantagem
em relação ao fornecedor, além de que a forma de cobrança seria vexatória.
Contudo, entendemos ser plenamente possível a aplicação
simultânea de ambas as normas. A constituição do penhor legal rege-se conforme
os arts.
1.467 a 1.472 do Código Civil; formaliza-se nos termos dos
arts. 703 a 706
11 I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou
rústicos;
doCPC; mas, envolvendo uma relação de consumo, pelo
princípio da especialidade, necessariamente deverá, também, observar as disposições
contidas no Código de Defesa do Consumidor.
Cláudia Lima Marques destaca que não há um conflito real
entre o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, mas sim uma antinomia
aparente e não real. Vejamos:
“Útil, pois, é a idéia de ‘diálogo’ das fontes,
diálogo que significa a aplicação simultânea, coordenada e sistemática destas
duas leis principais e coexistentes no Direito Privado brasileiro. Três serão,
em resumo, os diálogos entre o CC/2002 e o CDC: o diálogo sistemático de
coerência, o diálogo sistemático de complementariedade e subsidiariedade em
antinomias (reais ou aparentes) e o diálogo de coordenação e adaptação
sistemática.”12
É que a desejada proteção do consumidor reclama que a
constituição do penhor legal, previsto no inciso I do art. 1.467 do Código
Civil, observe uma série de cautelas.
O primeiro cuidado deve ser tomado antes mesmo de o credor
tomar os bens em penhor, visto que não poderá o consumidor ser “exposto a
ridículo”, nem ser“submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.”
(art. 42 do C.D.C)
Contudo, não constitui ameaça a informação do fornecedor ao
consumidor de que “tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou
utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o
pagamento” é crime previsto no art. 176 do Código Penal; mas, constitui ameaça
a tomada dos bens objeto de penhor à força. Neste ponto, é importante destacar
a lição de Sílvio de Salvo Venosa:“Entre outras diferenças, pode-se apontar
que, para exercer o direito de retenção, o retentor deve estar na posse do bem,
o que não ocorre no penhor legal, em que o credor toma posse da coisa.” 13Portanto,
estando os
12Nota: Marques, Cláudia Lima. Superação das antinomias pelo
diálogo das fontes: o modelo brasileiro de coexistência entre o Código de
Defesa do Consumidor e o Código Civil de 2002. Revista da Esmese, nº 07, 2004. p.
54 13VENOSA, Sílvio. Direito Civil: direito reais. São Paulo:
Atlas, 2001. p. 400
bens móveis na posse do devedor, não há o chamado direito de
retenção; mas, de apreensão.14
Tal apreensão, contudo, deve ocorrer somente em duas
hipóteses: havendo consenso entre as partes; ou, quando os bens sejam deixados
no estabelecimento do credor, não havendo, no momento da apreensão ou
apossamento, a detenção direta dos mesmos pelo devedor.
Assim, adotadas tais cautelas e o zelo com imagem do
consumidor, não há ilícito na apreensão realizada, mas sim um exercício regular
de um direito. Neste sentido, é o voto do Desembargador Ângelo Passareli do
TJDFT, proferido na apelação 20090710162526APC:
“Percebe-se, destarte, que a situação retratada nos autos
não importou sequer abuso de direito por parte do ora Apelante, uma vez que o
Autor consentiu com a inversão da posse do seu telefone celular, justamente
porque não tinha como pagar a conta naquele momento. Portanto, diante
de exercício regular de direito praticado pelo ora Apelante, não restou
eficazmente demonstrado nem o ato ilícito supostamente praticado pelo Réu, nem
o dano moral alegadamente experimentado pelo Autor, nem tampouco o nexo de
causalidade entre eles, não subsistindo, destarte, qualquer obrigação, na
espécie. Dessa forma, não tendo sido carreada aos autos qualquer prova das
humilhações, do vexame e do constrangimento narrados na inicial, baseando-se a
reparação de danos perquirida na peça de ingresso apenas nas assertivas do
próprio Requerente, não há como se acolher o pleito indenizatório formulado em
desfavor do estabelecimento comercial Réu.” 15 (grifamos)
14O art. 1.470 utiliza a expressão ‘apossar’ ao destacar
dever do credor fornecer aos devedores o “comprovante dos bens de que se
apossarem”.
15TJDFT, 5ª TURMA CÍVEL. APELAÇÃO N. 20090710162526APC
(0001830-
96.2009.8.07.0007). Decisão proferida em 26 de novembro de
2014.
Além disto, o fornecedor deve tão somente aceitar em penhor
ou apreender os bens que sejam suficientes à satisfação do débito, uma vez que
lhe é vedado exigir vantagem manifestamente excessiva (inciso V do art. 39 do
C.D.C).
Essencial também que o credor dê o comprovante dos bens
simultaneamente ao ato de apreensão, nos termos do art. 1.470 do Código Civil.
A ausência do fornecimento deste comprovante, assim como da subsequente
homologação, descaracteriza o penhor e pode, inclusive, ensejar indenização por
dano moral, tal como já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo.16
Também o requerimento de homologação extrajudicial deve
ocorrer seguidamente à apreensão dos bens, justificando-se a razão da apreensão
realizada. O longo transcurso de tempo entre a apreensão e a homologação pode
descaracterizar o penhor legal, uma vez que o caput do art. 703 estipula que o
credor deve requerer a homologação em ato contínuo à tomada do penhor.
A 12ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais
decidiu que “Não observando o locador os termos do art. 1.471 do Código Civil,
que permite a ele o penhor legal dos bens móveis do locatário pelo valor dos
aluguéis devidos, a retenção dos bens se afigura ilegal.”
17 O
Relator, Desembargador Saldanha da Fonseca asseverou em seu voto que:
“Assim sendo, a retenção dos móveis pelo locador pode
não ser ilegal; contudo, para que o penhor se faça na forma da lei, não pode o
locador somente reter os bens móveis, devendo também cumprir o art. 1.471 do
Código Civil, requerendo a homologação judicial. Desatendido o comando legal,
não pode se sustentar a retenção dos bens pertencentes ao agravante, restando
configurado o abuso de direito.”
16TJSP - 26a Câmara - Apelação com Revisão n°
992.06.064952-5 (1.079.854-0/9) São José Do Rio Preto. Trecho da Ementa: “No
caso, não há prova de que a ré deu ao devedor, ou às autoras, comprovante dos
bens de que se apossou nem de que, ato contínuo, requereu a homologação
judicial do penhor legal (arts. 874 a 876, CPC), nos termos do art. 1.471 do
mesmo Código.”
17Agravo de Instrumento-Cv 1.0024.10.086845-4/001 0188774-31.2010.8.13.0000
(1).
Relator: Des. Saldanha da Fonseca. Órgão Julgador: 12ª Câmara Cível. Data de
Julgamento: 30/06/2010. Data da publicação da súmula: 19/07/2010.
Outro ponto importante a considerar é que o requerimento do
fornecedor deve conter a conta pormenorizada das despesas, a tabela de preços e
a relação dos objetos retidos, conforme §§1º. e 2º. do art. 703 do Código de
Processo Civil.
A conta pormenorizada das despesas não poderá compreender
itens que tenham sido enviados ou entregues ao consumidor, sem sua solicitação
prévia (inciso III do art. 39 do C.D.C). Neste sentido, não podem ser levados à
conta valores de couvert, brindes, cortesias e outros.
Já em relação à tabela de preços, será válida aquela que, ao
tempo da contratação, estava afixada na sede do estabelecimento e à disposição
do consumidor. Tendo sido a contratação realizada pela internet, será válida a
tabela e as ofertas que foram veiculadas pelo site do prestador ou, até mesmo,
por intermediário, agenciador ou empresa de viagens. É que é direito básico do
consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem” (inciso III do art. 6º. do C.D.C.).
A tabela de preços, contudo, deixará de prevalecer se houver
“informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer
forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou
apresentados” (art. 30 do C.D.C). Assim, sendo tal oferta mais vantajosa ao
consumidor e estando obrigado o fornecedor a observá-la, esta oferta também
deverá também instruir o requerimento.
Muitas vezes a falta de pagamento total ou parcial do
consumidor ocorre justamente por este considerar válidos os valores constantes
de oferta pública. E de fato, cabe ao consumidor o direito de “exigir o
cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou
publicidade”(art. 35, inciso I do C.D.C.).
Portanto, é recomendável que da escritura pública conste que
o fornecedor declara não ter veiculado oferta, por quaisquer meios, que tenha
alterado a tabela de preços afixada no estabelecimento.
Também a notificação extrajudicial do consumidor deve
assegurar a facilitação da defesa de seus direitos (inciso VIII do art. 6º.),
sendo desarrazoado que o consumidor tenha que se deslocar a Cartório de Notas
de outra Comarca para apresentar sua defesa, devendo, nesta hipótese, ser
admitida a remessa da defesa por via postal ou por notificação extrajudicial
realizada por Cartório de Títulos e Documentos.
E, por fim, mesmo regularmente processada a homologação do
penhor legal, é importante rememorar que “o penhor legal não confere direito à
posse definitiva da coisa, necessitando-se da intervenção judicial para futura
expropriação”, conforme já decidiu a 14ª. Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de Minas Gerais.18
Portanto, o cenário de uma completa e desejada
desjudicialização do instituto do penhor legal irá depender da ocorrência de
algumas das hipóteses de extinção do penhor previstas no art. 1.436 do Código
Civil. É que o conflito e a solução permanecerão no âmbito extrajudicial
quando: o devedor espontaneamente pagar a dívida, extinguindo a obrigação
(inciso I); o credor renunciar a seu direito (inciso III); ou, as partes
ajustarem uma dação em pagamento, hipótese em haverá confusão na mesma pessoa
das qualidades de credor e dono da coisa (inciso IV).
Da Notificação Extrajudicial
Consta do §3º. Do art. 703 do novo CPC que:
“§ 3o Recebido o requerimento, o notário
promoverá a notificação extrajudicial do devedor para, no prazo de 5
(cinco) dias, pagar o débito
18Agravo de Instrumento 1.0024.07.579432-1/001 5794321-45.2007.8.13.0024
(1) Relator: Des.(a) Antônio de Pádua. Órgão Julgador / Câmara:
Câmaras Cíveis Isoladas / 14ª CÂMARA CÍVEL. Data de Julgamento: 25/10/2007.
Data da publicação da súmula: 13/11/2007.
ou impugnar sua cobrança, alegando por escrito uma das
causas previstas no art.
704, hipótese em que o procedimento será encaminhado ao juízo competente para
decisão.” (grifamos)
A dúvida então seria se o notário “notificará o devedor” ou
apenas “promoverá a notificação extrajudicial do devedor”. Muito embora a lei
não empregue palavras inúteis, entendemos que cabe às Corregedorias Gerais de
Justiça Estaduais fixar a correta intepretação do dispositivo.
Contudo, é seguro que o art. 160 da Lei nº. 6.015/73 confia
aos Oficiais de Títulos e Documentos a tarefa de proceder às chamadas
notificações extrajudiciais, podendo os Tabeliães, sem dificuldades, promoverem
as notificações na Serventia de Títulos e Documentos do domicílio de devedor.
No site https://www.rtdbrasil.org.br/,
há umsistema, desenvolvido pelo Instituto de Registradores de Títulos e
Documentos do Brasil, que faz a distribuição da notificação sem que haja
necessidade de o notificante se deslocar à serventia ou arcar com os custos de
postagem.19
Pelo referido Sistema, é possível que as notificações sejam
remetidas com assinatura eletrônica, por meio de certificado digital. Após a
remessa eletrônica, estando a mesma apta a registro, o Sistema disponibiliza um
boleto ao Tabelião o qual, assim que recebê-lo, poderá encaminhá-lo por e-mail
ao requerente.
Quando a notificação estiver cumprida, a sua imagem contendo
a certidão de notificação será encaminhada eletronicamente. Este processo
garante agilidade e eficiência no procedimento de notificação, além de
assegurar os benefícios de uma qualificada notificação pessoal do devedor.
A redação da notificação, além das informações de estilo,
qualificação de notificante e notificado, indicação do endereço completo onde
deverá ser cumprida, também deve informar ao devedor o prazo de 5 (cinco) dias
para pagar o débito ou impugnar a sua cobrança, alegando por escrito uma das
19Em virtude do Provimento n. 48/2016 do CNJ, as Centrais de
Serviço Eletrônico Compartilhado de RTDPJ serão estadualizadas; mas, a
implantação deverá ocorrer dentro do prazo fixado pelo CNJ e sem quebra na
continuidade da prestação dos serviços ao usuário.
causas previstas no art. 704. E, em se tratando de bens de
locação não residencial, recomendável que a notificação indague o devedor se os
bens relacionados são ou não utilizados no exercício da empresa.
Além disto, importante destacar que a notificação que não
contenha documentos anexos terá valores de registro mais baixos. Sem embargo,
todas as informações listadas no §1º. do art. 703 do novo CPC (conta
pormenorizada das despesas, a tabela de preços e a relação dos objetos retidos)
devem estar reproduzidas em seu corpo para que o devedor tenha real
oportunidade de defesa.
Em relação ao contrato de locação, é importante observar que
os contratos de locação de prédios estão sujeitos a registro no Ofício de
Títulos e Documentos para surtirem efeitos em relação a terceiros (item 1º. do
art. 129 da Lei n. 6.015/73).
EXTINÇÃO DO PENHOR
O penhor é resolvido com a extinção da obrigação; o
perecimento da coisa; a renúncia do credor; a confusão na mesma pessoa das
qualidades de devedor e credor; e a adjudicação judicial, a remição, ou a venda
amigável do penhor, se permitir expressamente o contrato ou for autorizada pelo
devedor, conforme Código Civil (art. 1.436).
É importante observar que, se a obrigação foi apenas
parcialmente paga, o penhor persiste na sua integralidade, em virtude do
princípio da indivisibilidade da garantia, conforme art. 1.421 do Código Civil.
Em regra os bens penhorados serão submetidos à avaliação,
para serem alienados em leilão público. A adjudicação consiste no direito do
credor de adquirir o bem levado a leilão quando não houvesse licitantes
(redação antiga do art. 714 do antigo CPC). Atualmente, com a reforma
processual visando maior celeridade (Lei nº 11.382, de 2006), e de acordo com o
art. 685-A, a adjudicação judicial pode ser de imediato requerida pelo
credor, antes da designação da praça, desde que por preço não inferior ao da
avaliação.
A remição consiste na possibilidade conferida ao devedor de
excluir determinado bem da penhora, desde que, antes de adjudicados ou
alienados os bens, o executado pagar ou consignar a importância atualizada da
dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios (CPC, art. 651).
Impõe salientar que, seja qual for a causa de extinção do
penhor, seus efeitos em relação a terceiros apenas serão produzidos após a
averbação do cancelamento do registro da garantia, à vista da respectiva prova
(CC, art. 1.437), como, por exemplo, sentença judicial, documento do devedor etc.
É que o penhor, como direito real, produz efeitos erga omnes com o seu registro
no órgão competente, logo, sua desconstituição também reclama o devido
cancelamento do registro anteriormente realizado.
CONCLUSÃO
LOGO, O PROCEDIMENTO PERANTE O TABELIÃO É O
SEGUINTE:
SEGUEM SUGESTÕES DE REQUERIMENTO NOS TERMOS PREVISTOS NO
NOVO CPC E DE NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL (sendo que é
possível remeter a notificação por meio eletrônico ao
cartório do RTD competente)
1) MODELO DE REQUERIMENTO
AO TABELIÃO
Eu, FULANA DE TAL, brasileira, viúva, do lar, portadora do
RG de número XXXXXXXX, CPF XXXXXXXXXXX, residente no seguinte endereço
xxxxxxxxxxxxxxxxx, venho requerer a V.Sa., nos termos do art. 703, § 3º do
Código de Processo Civil, seja providenciada a NOTIFICAÇÃO de
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, solteira, do lar, identidade
xxxxxxxxxxxx, CPF xxxxxxxxxxxxxx, que atualmente se encontra residindo no
endereço xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, para pagamento do débito existente em virtude
de locação.
A referida pessoa é locadora do imóvel de minha
propriedade, conforme contrato anexo, e está em débito pelo não pagamento até o
presente momento de 3 meses de aluguel, ou seja, aluguéis vencidos em 13 de
janeiro, 13 de fevereiro e 13 de março, sendo que dia 13 de abril vence mais um
mês de aluguel. O valor mensal do aluguel é de R$ 380,00 (trezentos e oitenta
reais) mais o valor de R$ 58,70 (cinquenta e oito reais e setenta centavos)
correspondente ao IPTU.
Assim, já vencido até a presente data o valor de R$
1.316,10 (hum mil trezentos e dezesseis reais e dez centavos) e a vencer no dia
13 de abril o valor de R$ 438,70 (quatrocentos e trinta e oito reais e setenta
centavos).
Além disso, não foi providenciado junto à Cemig a
troca do nome do responsável pela conta de luz e por isso consta débito, em
nome da ora Requerente, junto à Cemig, correspondente ao imóvel locado, no
valor, conforme conta anexa, de R$ 311,45 (trezentos e onze reais e quarenta e
cinco centavos) vencidos até a presente data.
Desta forma, requer a V.Sa., conforme previsto no art.
703, § 3º, do Código de Processo Civil, que NOTIFIQUE a referida pessoa para,
no prazo de 5 (cinco) dias, pagar o débito já
vencido, qual seja, 1.627,55 (hum mil seiscentos e vinte e sete reais e
cinquenta e cinco centavos) ou, se o pagamento ocorrer após 13 de abril, quando
já vencido o novo aluguel mensal, o valor de R$ 2.066,25 (dois mil e sessenta e
seis reais e vinte e cinco centavos) diretamente à ora REQUERENTE, no seu
endereço de residência, ou impugnar sua cobrança perante esse Tabelionato,
no endereço do Cartório, qual seja, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX alegando por
escrito uma das causas previstas no art.
704, do Código de Processo Civil.
Não havendo o pagamento ou a impugnação, a REQUERENTE
comparecerá ao Cartório, querendo, para dar prosseguimento ao feito, com aformalização,
por escritura pública, da homologação do penhor legal dos objetos
que guarnecem o imóvel locado, conforme lista anexa e avaliação
feita por profissional da áreamoveleira, também anexa, QUANDO SERÃO PAGOS OS EMOLUMENTOS
CORRESPONDENTES.
Local e data.
Assinatura do requerente perante o tabelião ou com firma
reconhecida
|
|
|
NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL (FAZER EM UMA SÓ FOLHA E, PREFERENCIALMENTE,
SEM ANEXOS, PARA QUE FIQUE MAIS ECONÔMICO O REGISTRO NO RTD)
O
TABELIÃO
DE
NOTAS
XXXXXXXXXXX,COM ENDEREÇO
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, VEM, NA FORMA PREVISTA NO ART. 703,
§ 3º, DO NOVO CPC, NOTIFICAR:
NOTIFICADO: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (NOME E
QUALIFICAÇÃO COMPLETA, INCLUSIVE ENDEREÇO ONDE IRÁ SER CUMPRIDA A NOTIFICAÇÃO)
em virtude de requerimento feito por:
REQUERENTE:
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (NOME
E QUALIFICAÇÃO COMPLETA, INCLUSIVE ENDEREÇO)
TEOR DESTA NOTIFICAÇÃO
O NOTIFICANTE, que esta subscreve, vem, na forma prevista no
art. 703, § 3º, do Código de Processo Civil, notificar respeitosa e formalmente
Vossa Senhoria sobre os fatos que são expostos a seguir:
Vossa
Senhoria é
locadora do
imóvel de propriedade
de XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, conforme contrato anexo, e está em débito com a
locadora pelo não pagamento até o presente momento de 3 meses de aluguel, ou
seja, aluguéis vencidos em 13 de janeiro, 13 de fevereiro e 13 de março, sendo
que dia 13 de abril vence mais um mês de aluguel. O valor mensal do aluguel é
de R$ 380,00 (trezentos e oitenta reais) mais o valor de R$ 58,70 (cinquenta e
oito reais e setenta centavos) correspondente ao IPTU. Assim, já vencido até a
presente data o valor de R$ 1.316,10 (hum mil trezentos e dezesseis reais e dez
centavos) e a vencer no dia 13 de abril o valor de R$ 438,70 (quatrocentos e
trinta e oito reais e setenta centavos). Além disso, Vossa Senhoria não
providenciou junto à Cemig a troca do nome do responsável pela conta de luz e
por isso consta débito, em nome da proprietária, junto à Cemig, correspondente
ao imóvel locado, no valor, conforme conta anexa, de R$ 311,45 (trezentos e
onze reais e quarenta e cinco centavos) vencidos até a presente data.
Segue na tabela abaixo a conta pormenorizada das despesas:
Xxxx
Em razão das despesas acima, foi expedido em favor de Vossa
Senhoriao comprovante dos bens empenhados, nos exatos termos do art. 1.470 do
Código Civil. São estes:
Xxxxx
Apesar de Vossa Senhoria ter sido comunicada por via
telefônica (e-mail ou notificação por Cartório de Títulos e Documentos) para
receber o comprovante supracitado, até o presente momento, XX horas após
sua lavratura, não o fez. Neste sentido, é lhe remetido em anexo o referido
comprovante juntamente com a presente notificação.
Desta forma, conforme previsto no art. 703, § 3º, do Código
de Processo Civil, fica Vossa Senhoria NOTIFICADA para, no prazo de 5 (cinco)
dias, pagar o débito já vencido, qual seja, 1.627,55 (hum mil
seiscentos e vinte e sete reais e cinquenta e cinco centavos) ou, se o
pagamento ocorrer após 13 de abril, quando já vencido o novo aluguel mensal, o
valor de R$ 2.066,25 (dois mil e sessenta e seis reais e vinte e cinco
centavos) diretamente à Sra. XXXXXXXXXXXXXXXXX, REQUERENTE, no seu endereço de
residência, ou impugnar sua cobrança perante esseTABELIÃO, no endereço do
Cartório, qual seja, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, alegando por escrito uma das
causas previstas no art.
704, do Código de Processo Civil, além de informar se alguns dos bens
empenhados são utilizados no exercício da empresa.
Informo que,nos termos do art. 704, § 4º, do Código de
Processo Civil, transcorrido o prazo sem manifestação do devedor, essa notária,
ora Notificante, formalizará a homologação do penhor legal dos
objetos relacionados no comprovante supracitado, por escritura
pública.
LOCAL, DATA
ASSINATURA DO TABELIÃO
(SE HOUVER REMESSA AO RTD POR MEIO ELETRÔNICO, ASSINAR
DIGITALMENTE)
NOTA: Caso a parte opte por encaminhar o contrato de
locação, o mesmo será devidamente registrado no Ofício de Títulos e Documentos,
nos termos do art. 381 do Código de Normas do Extrajudicial do Estado de Minas
Gerais, assim como do item 1º. do art. 129 da Lei n. 6.015/73).
* Gustavo Machado de Faria é Bacharel em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; foi Assessor Jurídico no
âmbito do Estado de Minas Gerais; Analista do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária; desde 18/08/2008 é Oficial de Registro de Títulos e
Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas da Comarca de Nova Lima. Atua na
qualificação e treinamento de registradores de Títulos e Documentos e Civil das
Pessoas Jurídicas de Minas Gerais, respondendo a consultas e realizando
apresentações sobre temas relevantes. A partir de janeiro de 2016, será o
consultor da empresa Automatiza Tecnologia e Automação para o Prolex, Sistema
de Registro de Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas. É o
consultor da empresa R2DA Tecnologia ?no desenvolvimento de software
de Notificação, em tempo real, via smartphone.
*Letícia Franco Maculan Assumpção é graduada em
Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (1991), pós-graduada e mestre
em Direito Público. Foi Procuradora do Município de Belo Horizonte e
Procuradora da Fazenda Nacional. Aprovada em concurso, desde 1º de agosto de
2007 é Oficial do Cartório do Registro Civil e Notas do Distrito de Barreiro,
em Belo Horizonte, MG. É autora de diversos artigos na área de Direito
Tributário, Direito Administrativo, Direito Civil, bem como Direito Registral e
Notarial, publicados em revistas jurídicas, e do livro Função Notarial e de
Registro. É Diretora do CNB/MG, Presidente do Colégio Registral de Minas
Gerais, Coordenadora da Pós-Graduação em Direito Notarial e Registral no CEDIN
e representante do Brasil na União Internacional do Notariado Latino.
Fonte: Sinoreg/MG