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Patrimônio vivo: a história por trás dos 270 anos da Catedral de São Pedro

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Primeira igreja portuguesa do RS mantém viva a memória religiosa e cultural da região

No coração da cidade do Rio Grande, a Catedral de São Pedro ergue-se como um símbolo da fé e da colonização portuguesa no extremo sul do Brasil. Fundada em 25 de agosto de 1755, a igreja é reconhecida como a primeira construída pelos portugueses no território gaúcho, representando um marco histórico, religioso e arquitetônico para o estado.

A construção da igreja está intimamente ligada à fundação da cidade do Rio Grande e à estratégia de ocupação lusitana na região. Erguida sob a invocação de São Pedro, padroeiro da cidade, a igreja foi inicialmente uma capela simples, que ao longo dos séculos passou por ampliações e reformas, consolidando-se como catedral em 1971. Seu estilo arquitetônico reflete influências luso-brasileiras, com elementos barrocos e neoclássicos.

A edificação da igreja foi motivada pelas precárias condições dos templos existentes na vila do Rio Grande, especialmente após um incêndio que destruiu a então igreja Matriz do Rosário em 1755. O padre Manoel Francisco da Silva, capelão militar, enviou uma carta a Gomes Freire de Andrade, então governador da Capitania do Rio de Janeiro e Minas Gerais, solicitando a construção de um novo templo. Gomes Freire de Andrade, reconhecendo a urgência, desviou recursos originalmente destinados à construção da casa do governador para erguer a igreja, utilizando soldados e serventes da expedição.

O projeto arquitetônico foi elaborado pelo engenheiro militar Manuel Vieira Leão, que concebeu um edifício com área construída de 484,50 m², nave central e capela-mor, além de nove altares dedicados a São Pedro e às irmandades religiosas. A igreja foi construída com pedra, tijolo e cal, materiais raros na região à época, o que conferiu ao edifício uma solidez que permitiu sua preservação ao longo dos séculos.

A Catedral de São Pedro testemunhou momentos cruciais da história do Rio Grande do Sul, incluindo a invasão espanhola de 1763, quando foi saqueada, mas posteriormente recuperada e utilizada pelos ocupantes para atividades religiosas. Durante os treze anos de domínio espanhol, a igreja manteve-se em uso, e seus livros paroquiais foram preservados, com exceção do de casamentos e do de batizados de escravos.

Ao longo do século XIX, o crescimento da população local levou a propostas de ampliação ou mesmo demolição do prédio, considerando-se seu espaço interno insuficiente para acomodar os fiéis. Em 1849, a Câmara Municipal chegou a reservar um terreno na praça Geribanda para a construção de uma nova matriz, projeto que não se concretizou. Na década de 1930, a igreja enfrentou sua maior ameaça de demolição, por determinação do Bispado de Pelotas, mas a mobilização da comunidade e a intervenção do então recém-criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) resultaram no tombamento do edifício como patrimônio nacional em 1938, garantindo sua preservação.

Além de sua função religiosa, a Catedral de São Pedro abriga importantes vestígios históricos, incluindo os restos mortais de figuras ilustres como o brigadeiro Rafael Pinto Bandeira e o tenente-coronel Sebastião Xavier Veiga Cabral da Câmara. Foi também local do batismo do Almirante Tamandaré, Joaquim Marques Lisboa, em 1807.

Atualmente, a Catedral de São Pedro é tombada como patrimônio histórico e cultural, sob a guarda da Diocese do Rio Grande e com acompanhamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Seu acervo inclui imagens sacras, altares entalhados e documentos que remontam ao período colonial, oferecendo valor educativo, turístico e espiritual para a comunidade.

Além das funções religiosas, a Catedral promove atividades culturais e educativas, como visitas guiadas, exposições e celebrações que atraem fiéis e turistas. A data de seu aniversário – 25 de agosto – é celebrada anualmente com missa solene e programação especial, reforçando seu papel como espaço de memória e evangelização.

Com 270 anos de história, a Catedral de São Pedro permanece como testemunha da resistência cultural e da fé do povo rio-grandino, mantendo viva a herança portuguesa e a identidade histórica do Rio Grande do Sul. Sua trajetória é um exemplo de como a mobilização comunitária e a legislação patrimonial podem garantir a preservação de edifícios que são pilares da memória coletiva.

Fonte: Assessoria de Comunicação – CNB/RS