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Clipping – Gaúcha ZH - Em meio à pandemia, total de divórcios atinge recorde histórico no Rio Grande do Sul

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Números do segundo semestre de 2020 foram os maiores já registrados pelo Colégio Notarial do Brasil no Estado desde o início da prática em cartório, em 2007. Aumento foi de 7% em relação a 2019

O número de divórcios consensuais realizados pelos cartórios de notas do Rio Grande do Sul durante o distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus atingiu um recorde histórico. No segundo semestre de 2020, foi registrado o maior número de divórcios no Estado desde o início da prática do ato em cartório, em 2007.

O levantamento é do Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal (CNB/CF), entidade que reúne os cartórios de notas do país. Além da quarentena, o aumento coincide com a autorização nacional para que divórcios possam ser feitos de forma remota, por videoconferência, por meio da plataforma e-Notariado.

O número total de 3.460 divórcios extrajudiciais, realizados diretamente em cartórios de notas do RS no segundo semestre de 2020, é 7% maior do que as 3.221 dissoluções matrimoniais ocorridas no segundo semestre de 2019. A variação de um ano para outro é, ainda, sete pontos percentuais superior à média histórica no Estado, que apontava uma estabilidade nos divórcios em cartórios desde 2010, ano em que foi introduzido o divórcio direto no Brasil.

— Durante a pandemia, muitos casais passaram mais tempo juntos, o que fez com que a relação fosse observada com mais atenção. Realizar o divórcio também passou a ser um processo menos burocrático, a documentação pode ser encaminhada ao cartório por meio digital. Assim, o processo de divórcio se tornou mais ágil, com a possibilidade de ser feito de casa, evitando inclusive os naturais constrangimentos — ressalta José Flávio Bueno Fischer, presidente do Colégio Notarial do Brasil - Seção Rio Grande do Sul (CNB/RS).

No Brasil, o número total de 43.859 divórcios extrajudiciais, realizados diretamente em cartórios de notas no segundo semestre de 2020, é 15% maior do que as 38.174 dissoluções matrimoniais ocorridas no segundo semestre de 2019. A variação de um ano para outro é 13% superior à média histórica nacional, que apontava crescimento anual de 2% nos divórcios em cartórios desde 2010, ano em que teve início o divórcio direto no Brasil. Outubro foi o mês com maior número de divórcios desde 2007 — mais de 7,6 mil no país.

Para realizar o divórcio online, basta o casal acessar esta plataforma com RG, CPF e certidão de casamento — é necessário ter uma assinatura virtual. O procedimento, que é acompanhado por um advogado, não costuma levar mais do que 20 minutos.

A terapeuta de casais e professora da Universidade Federal do RS (UFRGS) Adriana Wagner explica que o confinamento imposto pelo coronavírus obrigou os casais a conviverem mais e serviu para revelar ou intensificar problemas que existiam antes. 

— O confinamento mudou drasticamente o contexto, que é uma variável importante nas relações conjugais, revelando uma dinâmica conjugal pré-existente. Na rotina, os problemas se diluem. Com as pessoas confinadas, não tem como camuflar — diz.

Segundo a pesquisadora, resultados preliminares de um estudo da UFRGS indicam que o distanciamento social tem contribuído de duas formas: para casais que estavam bem, ajudou a reforçar laços, enquanto para aqueles que mostravam desgastes, os problemas se agravaram: 

— O confinamento interiorizou as pessoas, obrigou-as a refletir mais. Elas não podem culpá-lo porque ele apenas acelerou processos que já existiam. 

A advogada colaborativa de famílias Paula Britto, autora do livro Manual da Separação, conta que registrou um aumento expressivo de atendimentos:

— Pessoas que estavam pensando em divórcio antes da pandemia e amadureceram a ideia no isolamento ligaram para saber da logística, pedir orientação. Alguns usaram esse tempo em casa justamente para recolher documentos, se organizar. Muitas relações se mantinham porque as pessoas se viam minimamente. É muito parecido com o aumento na procura ocorrido geralmente no pós-férias, depois do verão, no fim de ano também. São períodos de maior convivência familiar.

A opinião de especialistas é que o distanciamento social serviu para agravar situações que já eram difíceis em casamentos desgastados — não é à toa que a Associação Gaúcha de Terapia Familiar identificou um pico no atendimento de casais em 2020. A advogada especialista em direito de família Bárbara Corrêa, por exemplo, notou um aumento de perguntas sobre o tema em suas redes sociais — ela descomplica o assunto no canal E Agora, Bárbara?, no YouTube, e tem quase 10 mil seguidores no Instagram.

— Minhas últimas lives abordaram especificamente o divórcio, como lidar com as emoções nesse momento, justamente por esse aumento das dúvidas que percebi — explica Bárbara. — Acredito que a pandemia não fez com que um casal que estava bem decidisse se divorciar por causa da convivência, esta é a exceção. Quem tem me procurado não são casais que estavam bem, são aqueles que já estavam pensando em se divorciar. O isolamento só acelerou.

Fonte: Gaúcha ZH