O Plenário virtual do Supremo Tribunal
Federal decidiu reanalisar a fixação de tese segundo a qual o fato gerador do
imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ITBI) somente ocorre com
a efetiva transferência da propriedade imobiliária, mediante o registro.
A decisão foi tomada em julgamento no Plenário virtual encerrado na sexta-feira (26/8). Por maioria de votos, a corte acolheu segundos embargos de declaração ajuizados pelo município de São Paulo, que se insurgiu contra a tese fixada em fevereiro de 2021, sob repercussão geral.
O caso trata da incidência do ITBI em cessão de direitos de compra e venda, mesmo sem a transferência de propriedade pelo registro imobiliário. Em 2021, o STF se propôs a analisar a repercussão geral do caso para saber se deveria julga-lo e firmar tese, que caráter vinculante.
Relator, o ministro Luiz Fux apresentou
voto aos colegas reconhecendo densidade constitucional e potencial impacto em
outros casos. E foi além: no mesmo acórdão, afirmou que o STF já tinha,
inclusive, jurisprudência dominante sobre o tema. Com isso, propôs de pronto
uma solução para a questão.
Assim, sem manifestação das partes sobre o
mérito, nem sustentação oral, o Plenário Virtual do STF fixou a tese segundo a
qual "o fato gerador do Imposto sobre Transmissão inter vivos de Bens
Imóveis (ITBI) somente ocorre com a efetiva transferência da propriedade
imobiliária, que se dá mediante o registro".
O problema, agora reconhecido, é que o
processo em questão trata de apenas uma das três hipóteses de incidência do
ITBI no artigo 156, II, da Constituição Federal: a cessão de direitos a sua
aquisição.
Já a jurisprudência que o tribunal
resolveu reafirmar travava, na verdade, das outras hipóteses: a transmissão de
bens imóveis, por natureza ou acessão física; e de direitos reais sobre
imóveis, exceto os de garantia.
A diferenciação foi apontada pelo
município de São Paulo, ressaltada pela Associação Brasileira das Secretarias
de Finanças das Capitais Brasileiras (Abrasf), noticiada pela revista
eletrônica Consultor Jurídico e estava gerando, inclusive, insegurança quanto
ao rito de cobrança do ITBI pelas Fazendas municipais.
No voto divergente que se sagrou vencedor,
o ministro Dias Toffoli faz essa distinção e destaca que a tese fixada pelo
Supremo em 2021 não abrange a hipótese discutida nos autos, que versa sobre
cessão de direitos.
"Nos julgados mais recentes da Corte, não houve debate aprofundado sobre aquela última hipótese de incidência, sendo certo que os precedentes utilizados como jurisprudência no acórdão ora embargado trataram de hipótese diversa, concernente à primeira parte do inciso II daquele artigo, qual seja transmissão de bens imóveis", disse.
A divergência foi acompanhada pelos
ministros Ricardo Lewandowski, Luiz Edson Fachin, André Mendonça, Nunes
Marques, Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes. Ficou vencido o ministro Luiz
Fux, que votou por rejeitar os embargos, acompanhado por Alexandre de Moraes,
Cármen Lúcia e Rosa Weber.
Com o resultado, o tema sobre a incidência
do ITBI em cessão de direitos de compra e venda continua com repercussão geral
reconhecida, mas não vale mais a reafirmação de jurisprudência. O processo será
pautado, com possibilidade de manifestação das partes, sustentação oral,
ingresso de amici curiae (amigos da corte) e amplo debate.
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ARE 1.294.969
Fonte: ConJur